Sushi, tietagem e segurança reforçada: Alcaraz tem dias de estrela, mas mantém foco no bi do Rio Open
Por mais que o espanhol Carlos Alcaraz repita que nada mudou em sua personalidade após se tornar o mais jovem número um do mundo da história do tênis, a rotina da agora estrela mundial do esporte virou de cabeça para baixo em um ano. Um simples jantar num restaurante japonês no Rio, por exemplo, pode se tornar caso de segurança pública.
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No ano passado, o então jovem de 18 anos chegou à cidade como promessa do Rio Open e do tênis mundial. Seu estilo no saibro rapidamente levou à comparação com o compatriota Rafael Nadal. O garoto não se importava, mantinha sua rotina de treinos e circulava pelo Jockey Club sem ser muito assediado pelos fãs. Um jogador iniciante de fácil acesso à torcida e à imprensa, mas com objetivo claro de chegar ao topo .
Bastaram alguns meses, um troféu de Grand Slam na estante e mais de 10 milhões de dólares na conta para que chegar perto de Alcaraz necessitasse de muito mais esforço. Não por vontade do jovem, que mantém a simplicidade e o sorriso fácil, mas pela exigência do seu novo status.
Do garoto que treinava nas quadras adjacentes, passava no meio dos fãs e dava entrevistas entre os sócios do clube passou ao campeão que escolhe seus sparrings, treina na Quadra Central sem acesso do público e só com imprensa autorizada, concede coletivas com a presença de vários jornalistas e tem sempre uma barreira entre ele e os torcedores, sejam grades ou seguranças.
— Ano passado, foi muito mais fácil conseguir foto e autógrafo. Ontem, eu saí mais cedo do jogo dele e fiquei na grade por nove games esperando ele. Hoje, eu fiquei três horas esperando e rodei o Jockey todo para encontrar ele, fui à academia, perguntei para todo mundo e vim para grade esperar o fim do treino dele. Agora, tenho três autógrafos — diz Fernanda Gouveia, de 12 anos, que ouviu o conselho da mãe. — Ano passado, ela me disse que ele ia ser o primeiro do mundo e ficar de olho nele. Quando ele veio ao Rio Open, ela me disse que seria uma das únicas oportunidades de conseguir ficar perto do futuro número um do mundo.
A ficha da fama mundial parece não ter caído totalmente. Durante o Carnaval, Alcaraz considerou viável passar próximo à multidão que ia e vinha dos blocos na Rua Dias Ferreira, no Leblon. Seu destino era o famoso restaurante japonês do local. Menos de 50 metros separavam a van onde estava do estabelecimento, e, ao contrário da opinião dos seguranças, o espanhol quis fazer o trajeto a pé. Poucos passos depois, um folião o reconheceu e externou para todos: "Ih, olha lá, é o Alcaraz". Em segundos, várias pessoas circundaram o tenista, que precisou de ajuda da Guarda Municipal para sair da confusão e comer seu sushi quase em paz.
O restaurante se tornou point do tenista, que o considerou um dos melhores japoneses que já experimentou. Melhor até mesmo que similares no Japão. Os convites para famosas churrascarias foram negados. Mas mesmo fora da folia, o espanhol não consegue saborear as peças de atum e salmão sem receber um pedido de autógrafo ou foto.
No Jockey Club, a situação é a mesma. Os fãs, em sua maioria crianças e adolescentes, grudam nos seguranças do jogador e correm por todos os cantos para tentar a sonhada selfie. Na sexta-feira, lá estavam dezenas deles em busca de um autógrafo após Alcaraz vencer o sérvio Dulsan Lajovic por 6/4 e 7/6 (0) — neste sábado, ele enfrenta o chileno Nicolás Jarry nas semifinais. O número de seguranças aumentou e o estafe do jogador comparece em peso para que o jogador não esqueça o objetivo principal: jogar o melhor tênis possível e voltar ao topo do mundo.
Afinal, quanto maior a fama maiores são as tentações. Alcaraz já tinha manifestado o desejo de ver os desfiles das escolas de samba. Porém, a vitória em Buenos Aires no último domingo e a estreia no Rio, na terça-feira, não deixaram brecha. Ainda há o desfile das campeãs, neste sábado, e o empresário do espanhol recebeu convite para o tenista sair na escola que quiser. Mas recusou sem sequer perguntar ao jovem de 19 anos. O foco é estar na final de domingo, e passar a noite na Sapucaí está fora dos planos. Em sua passagem pelo Rio, só fez um sobrevoo pelo Cristo Redentor e visitou o Pão de Açúcar, fechado exclusivamente para sua visita. Benesses de estrelas.
Além do sushi e do Carnaval cariocas, Alcaraz se encantou com as jovens brasileiras, e com a grande proporção delas em relação aos homens na cidade. No início da semana, ele fez questão de reforçar que está solteiro. Mas o alto rendimento tem seu preço. Pai, irmão, médico, fisioterapeuta e empresário impedem que o jovem saia da linha durante a competição. A rotina se mantém entre treinos de quadra, pilates, esteira, musculação, pausa para o almoço —um pratão de arroz regado com azeite —, jantar e hotel. Toda energia voltada para se manter entre os melhores do mundo.