Suspeita de espionagem contra PM mandou mensagens sobre trajeto do Bope para quatro contatos
O celular de onde Carolina Teixeira da Silva, de 33 anos, mandou mensagens alertando sobre uma operação do BatalhĂŁo de OperaçÔes Policiais Especiais (Bope) e o trajeto feito pelos policiais desde o batalhĂŁo, em Laranjeiras, revelou que o aviso foi enviado ao mesmo tempo para quatro contatos diferentes por meio de um aplicativo de mensagens instantĂąneas. Identificados como "333 MarĂ©", "Magrinho COR Maio", "Gabriel Gomes (Aliança Novo)" e "Da Prata Magrinho", os usuĂĄrios receberam a seguinte informação: â4 viaturas pegando a Av. Brasil. Sem o grandĂŁo. Estamos na Linha Vermelhaâ.
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AlĂ©m disso, a conta do Whatsapp vinculada ao aparelho telefĂŽnico utilizado por Carolina para trocar mensagens traz uma bandeira de Israel. A imagem Ă© comumente vinculada ao Complexo de Israel, criado pelo traficante Ălvaro Malaquias Santos Rosa, o PeixĂŁo, na regiĂŁo da Cidade Alta e de Parada de Lucas, em 2020. A facção criminosa que domina a regiĂŁo Ă© a mesma do Complexo da MarĂ© e da Vila Aliança, nomes que aparecem, ainda que em partes, nos contatos de interlocutores da suspeita de espionagem. Carolina estava no carro ao lado de Keley Cristina Domingos dos Santos, de 31 anos, no carro abordado pelos policiais militares na altura de Ramos. As duas foram detidas e levadas para a 21ÂȘ DP (Bonsucesso).
Num primeiro depoimento na delegacia, Keley contou que estava apenas de carona com a outra suspeita no momento em que elas foram abordadas e que teria saĂdo de Campo Grande para levar quentinhas para uma cunhada num hospital em Laranjeiras. Carolina Ă© esposa de um primo de Keley, um PM que estĂĄ preso. Mas, num segundo momento, Keley pediu para dar um novo depoimento e revelou que estava no apartamento de Carolina em Laranjeiras, imĂłvel que era usado como ponto de espionagem com uma cĂąmera instalada na janela do quarto. Ela explica que mentiu por medo de ser envolvida no caso e alega que estava no apartamento para se encontrar com um namorado.
Keley diz ainda que chegou a perceber a estrutura de espionagem mas que nunca perguntou nada a Carolina sobre isso. O namorado de Keley também prestou depoimento e contou que esteve algumas vezes no endereço durante os seis meses de relacionamento do casal e que a mulher sempre disse que o apartamento era emprestado por uma "prima". Logo após a prisão, cùmeras de segurança do prédio registraram o homem saindo do imóvel após retirar itens pessoais de Keley a pedido da própria namorada. Em depoimento, ele disse ter ficado surpreso e que "nunca tinha desconfiado de nada". As cùmeras de segurança do prédio flagraram o momento em que o homem sai do imóvel de Laranjeiras.
JĂĄ Carolina, que Ă© fisioterapeuta, contou Ă polĂcia que alugou o apartamento hĂĄ cerca de cinco meses para morar com a filha, de 13 anos. Ela tambĂ©m diz ser proprietĂĄria de uma "empresa de gelo" em Campo Grande. Ela dirigia o veĂculo abordado e negou que estaria seguindo os carros do Bope. Carolina conta que voltava de Realengo na manhĂŁ desta terça-feira, onde havia levado o carro para uma oficina mecĂąnica, e que seguiu para Laranjeiras ao encontro de Keley em Laranjeiras. De lĂĄ, as duas seguiriam para Campo Grande, onde mora Keley, antes de Carolina voltar para Realengo. Ela negou ter mandado as mensagens pelo WhatsApp e a gravação dos vĂdeos feitos pelo grupo.
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Ainda no depoimento, Keley contou que Carolina, por volta das 4h desta terça, mandou mensagem enquanto dirigia, mas que nĂŁo sabe o conteĂșdo do texto e nem com quem ela falava. Keley lembra que, no momento da abordagem, Carolina teria soltado um palavrĂŁo como se ela estivesse preocupada com esse episĂłdio. Carolina, no entanto, diz que nĂŁo se lembra de ter dito tal frase exclamativa.
PerĂcia na cĂąmera da Frei Caneca
Uma equipe da 21ÂȘ DP (Bonsucesso) realizou uma perĂcia na manhĂŁ desta quarta-feira na loja onde estava instalada a cĂąmera de segurança que monitorava policiais militares do BatalhĂŁo de Choque, no Centro do Rio. O equipamento teria sido colocado por uma das mulheres suspeitas de espionar os agentes e repassar as informaçÔes para traficantes, que sabiam, dessa forma, com antecedĂȘncia das operaçÔes. Os policiais civis fotografam a cĂąmera de segurança, que estĂĄ na fachada de um hostel na Rua Frei Caneca, a cerca de 100 metros da entrada do batalhĂŁo.
Segundo uma testemunha, a mulher teria alugado o espaço e dito que ali funcionĂĄria um depĂłsito de gelo, mas o negĂłcio nunca chegou a funcionar. Um gerente do hostel contou que a cĂąmera teria sido instalada hĂĄ cerca de dois meses. A caixa de eletricidade foi outro ponto analisado pelos agentes, que buscaram saber de que forma o monitoramento foi montado. Uma escada foi utilizada por eles para alcançar a cĂąmera. Dentro da loja, vĂĄrios roteadores de internet estavam espalhados pelo chĂŁo, indicando que a transmissĂŁo das imagens era feita de dentro do imĂłvel. A polĂcia tambĂ©m buscou recolher impressĂ”es digitais nos equipamentos, que ainda estavam funcionando nesta quarta-feira.
Segundo a polĂcia, a dupla monitorava a movimentação das tropas em tempo real. Elas foram detidas num veĂculo branco que acompanhava viaturas do Bope quando teve inĂcio o deslocamento da equipe do quartel da unidade com destino Ă comunidade de Manguinhos para uma ação de apoio a policiais da Coordenadoria de PolĂcia Pacificadora (CPP). Com as mulheres, os policiais militares apreenderam seis telefones celulares, com registros de comunicação com diferentes facçÔes criminosas ligadas ao trĂĄfico de drogas e a milĂcias.
O GLOBO nĂŁo conseguiu contato com as defesas das duas presas.