Tensão sobre reforma da Previdência aumenta na França
A tensão sobre a impopular reforma da Previdência aumentou na França, nesta sexta-feira (10), com a recusa do presidente Emmanuel Macron de se reunir em caráter de "urgência" com os sindicatos e uma nova iniciativa do governo para limitar o debate no Parlamento.
"Como avalista das instituições, meu dever é preservar este tempo parlamentar que está correndo", escreveu Macron em uma carta, na qual fechou a porta a se reunir com os sindicatos, embora assegure que o governo está "à sua escuta".
Segundo as pesquisas, dois em cada três franceses se opõem ao plano do presidente de adiar a idade da aposentadoria de 62 para 64 anos em 2030 e de antecipar para 2027 a exigência de contribuição por 43 anos (e não 42, como é até agora) para se ter direito à aposentadoria integral.
O repúdio foi manifestado em uma série de protestos multitudinários desde 19 de janeiro, mas que não conseguiram a retirada do projeto. Os sindicatos convocaram novos atos para o sábado, enquanto continua as greves nos transportes e no setor da energia.
O tempo urge para a oposição. O governo optou por um procedimento polêmico que limitou os dias de avaliação do projeto e lhe permite, ainda, adotá-lo por decreto se, até 26 de março, as duas Câmaras do Parlamento não tiverem se pronunciado.
O ministro do Trabalho, Olivier Dussopt, ativou nesta sexta um mecanismo polêmico, que limita ainda mais o debate no Senado, onde o projeto tramita, com a expectativa de que a Câmara alta o vote antes do prazo, que termina no domingo.
Esta iniciativa irritou a oposição de esquerda, que desde o início da tramitação busca a obstrução parlamentar do texto. "O governo amordaça o Senado", denunciou o legislador socialista, Patrick Kanner.
A próxima semana se anuncia decisiva. Um grupo de deputados e senadores deve acordar, na quarta-feira, um texto de consenso que, em seguida, o governo vai submeter novamente às duas Câmaras a partir da quinta para sua nova aprovação.
Com a maioria do Senado no bolso, o governo poderia ativar um último mecanismo na Assembleia Nacional (Câmara baixa) para assegurar a aprovação da reforma, que só poderia ser rechaçada se a oposição apresentar uma moção de censura e consegui-la.
Este mecanismo, conhecido como "49.3", é muito polêmico. Philippe Martinez, líder do sindicato CGT, advertiu que usá-lo seria "muito grave para a democracia" e justificaria que a contestação continuasse e, inclusive, aumentasse.
Novos protestos foram convocados para a quarta-feira.
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