Terapia personalizada que fez câncer regredir traz esperança, mas ainda é pouco acessível
RIO — A notícia de que uma terapia celular experimental conseguiu fazer regredir um linfoma contra o qual o mineiro Vamberto Luiz de Castro, de 62 anos, lutava há mais de dois anos, gerou uma onda de esperança em quem sofre com câncer.Desde a divulgação do caso, há seis dias, a caixa de e-mail do hematologista Dimas Tadeu Costa — coordenador do Centro de Terapia Celular do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto e um dos responsáveis pelo estudo — recebeu mais de 100 mensagens de pacientes desejando receber o "tratamento".A terapia personalizada, feita a partir de células de defesa do próprio paciente, ainda está na fase de teste, ou seja, não pode ser considerada um tratamento.Isso significa que o procedimento médico ainda não é ofertado em larga escala, sendo, também, exclusivo do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto.— É uma pesquisa dentro de um hospital público (vinculado à USP), em um laboratório pequeno. O laboratório é sofisticado, complexo, com as devidas autorizações para desenvolver o teste, mas não é uma fábrica. Desenvolvemos a terapia, mas não temos capacidade para aplicar em alta escala. A cada 40 dias, conseguimos desenvolver uma terapia personalizada, mesmo com todos trabalhando em função disso — explica Costa.LEIA MAIS: Há também uma limitação em relação ao tipo de câncer. O teste do HC de Ribeirão Preto foi desenvolvido apenas para uma subtipo específico de linfoma (câncer do sangue), o não-Hodgkin.Os demais tipos da doença, como o câncer de mama, estômago, pulmão, etc., não têm nenhuma relação com a terapia.Na seleção para escolher quem receberia as células modificadas, os cientistas privilegiaram pacientes que não tinham mais nenhuma alternativa de tratamento. Era o caso de Vamberto, que já tinha sido submetido a quatro tipos de tratamento, sem sucesso.— É um uso experimental para situações extremas. Assim como o Vamberto, os outros três pacientes que estão no estudo não têm outras opções terapêuticas, não responderam aos tratamentos habituais — esclarece o hematologista.Perspectiva de ampliação do acessoA equipe tem a expectativa de que as condições para o desenvolvimento da terapia personalizada sejam ampliadas, permitindo contemplar um maior número de pacientes.A partir daí, o teste poderia ser transformado em um estudo clínico, mais controlado e com resultados comparados com outros tipos de terapia.— Se houver apoio, investimento, pode ser que a gente consiga ampliar e transformar isso em um tratamento de fato, aprovado pela Anvisa. Mas isso não acontece da noite para o dia.Caso a ampliação aconteça e a terapia se transforme em estudo clínico, a possibilidade de registro como tratamento torna-se mais real. Com a autorização, ele poderá ser acessado através de outras unidades de saúde e, até mesmo, através do SUS.— A partir da autorização, ele poderia entrar para o SUS. Já existe uma preocupação em levar isso para um uso mais amplo. Esse experimento é revolucionário, muda a vida das pessoas, mas ele precisa estar disponível para o público, e o SUS é isso.Outros três pacientes já estão no teste e, segundo os médicos, há a possibilidade de abrigar novos candidatos, em pequeno número. Foi criado um e-mail institucional (terapia@hemocentro.fmrp.br) exclusivo para comunicações sobre a terapia. Lá, possíveis candidatos podem entrar em contato com os médicos responsáveis e se candidatar para participar do estudo.Caso o paciente seja selecionado pela triagem e não haja maiores problemas para ser incorporados pelo hospital —como a disponibilidade dos leitos específicos para esse tipo de procedimento—, ele dará entrada no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto pelo SUS como candidato a um estudo experimental.*Estagiária sob supervisão de Eduardo Graça