Termos racistas serão excluídos de novas edições dos livros de James Bond
Expressões racistas serão excluídas das novas edições dos livros protagonizados pelo agente secreto James Bond, o 007, de autoria do britânico Ian Fleming (1908-1964), informou o jornal britânico The Telegraph. Os títulos começam a sair no Reino Unido em abril, quando será lançado um volume comemorativo de "Casino Royale", primeiro romance do espião.
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Segundo o espólio do autor, os livros passaram por um processo chamado "leitura sensível", que identifica trechos potencialmente problemáticos, nos quais grupos marginalizados são representados de maneira preconceituosa. Nos livros de Fleming, será excluído um termo usado para se referir de maneira ofensiva a pessoas negras, a "N-word". O termo foi trocado por "pessoa negra" ou "homem negro".
A maioria das alterações se refere à representação de pessoas negras. Em "Viva e deixe morrer", Bond afirma que certos africanos envolvidos no tráfico de ouro e diamantes eram "cumpridores da lei", "exceto quando bebem demais". Essa passagem foi excluída. Em outro trecho, Bond visita uma boate no Harlem, bairro afro-americano em Nova York, e o público é descrito como "ofegante e grunhindo feito porcos". A nova edição dirá: "Bond podia sentir a tensão elétrica no ambiente".
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As alterações em "Viva e deixe viver" foram autorizadas pelo próprio Fleming em vida, afirma o espólio. "Seguindo a proposta de Ian, examinamos vários termos raciais nos livros e removemos palavras individuais ou as trocamos por termos que são mais aceitos hoje", diz a nota.
As novas edições dos livros virão com uma nota explicativa: "Este livro foi escrito em uma época em que palavras e atitudes que podem ser consideradas ofensivas por leitores modernos eram corriqueiras. Várias de atualizações foram feitas nesta edição, mas com o objetivo de manter a maior proximidade possível com o texto original".
Fleming não é o único autor cuja obra está sendo reescrita para extirpar trechos problemáticos. As obras de Roald Dahl (1916-1990), autor de clássicos da literatura infantil como "Matilda", também ganharão novas edições. Termos pejorativos referentes a peso, saúde mental, violência, gênero e raça serão substituídos. Em "A fantástica fábrica de chocolates", por exemplo, Augustus Gloop não será mais descrito como "enormemente gordo", mas apenas como "enorme".