Tragédia em Manaus: 74 famílias foram retiradas de área onde deslizamento matou 8; buscas continuam

As buscas por vítimas continuam, nesta segunda-feira (13), após o deslizamento de terra que deixou mortos, desabrigados e espalhou destruição na comunidade Nova Floresta, no bairro de Jorge Teixeira. A informação é do comandante-geral do Corpo de Bombeiros do Amazonas, Orleilso Ximenes Muniz. Ainda na noite deste domingo, oito pessoas dadas como desaparecidas pelos moradores, na área onde ficavam suas casas, foram encontradas sem vida. Não há mais reclamados, mas, segundo o militar, por precaução, os trabalhos só serão concluídos quando toda a área da favela for escavada. Em entrevista ao GLOBO, ele afirmou que ainda restam ser explorados cerca de 30% do terreno ocupado irregularmente. Todas as 74 famílias foram removidas da área de risco.

Entre os 8 mortos, quatro foram identificados: Jucicleia Barbosa, 31 anos, e a filha, Heloiza Barbosa, de 7; Cleberson Nunes Barbosa, de 34 anos, e o filho, Cableb Mendes Nunes, de 7. Além deles, 4 vítimas, que seriam venezuelanas, restam ser identificadas. O fato de que estariam ilegais no Brasil, dificulta o trabalho, que contará com ajuda da Polícia Federal. Três desses imigrantes seriam da mesma família: um casal e uma criança.

— Entre os venezuelanos, as informações preliminares são de que estavam aqui de forma irregular. Eles sequer tinham documentos. É outro problema evidenciado. São pessoas que chegam por Roraima em Manaus de forma clandestina e acabam se instalando nessas áreas de risco — conta o comandante do Corpo de Bombeiros.

O militar conta sobre as dificuldades de acesso na comunidade de Nova Floresta. Além de homens do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil, ainda foi feito um trabalho de recrutamento de moradores voluntários, que usaram o conhecimento da área para facilitar o trabalho de localização das vítimas.

— A área é de muito difícil acesso. São ruas, vielas, becos muito íngremes. Até chegar no local, tivemos que usar uma retroescavadeira, que abriu um pequeno ramal até conseguirmos ter acesso a essas residências que foram atingidas. Certamente, o local estava em risco. Ele fica na parte interior de um grande talude, como se fosse um buracão. Além desse "buracão" natural, vendo de cima pudemos observar também cortes irregulares frutos da ocupação irregular. É o que se repete em tragédias tanto aqui, como em São Paulo, no Rio de Janeiro, em todo o país — narra.

Segundo ele, as buscas ainda continuam, sobretudo, porque ainda há uma possibilidade remota de vítimas, mesmo que não tenham sido reclamadas.

— No momento, não existem pessoas reclamadas como desaparecidas, e essa é uma investigação que a gente faz com os moradores porque é um indicativo. Mas as buscas continuam porque ontem um morador disse que havia a chance de que, em uma das casas, estivessem apenas crianças. Apesar de a informação ser um pouco vazia, mantivemos as buscas com retroescavadeira. E é um trabalho muito técnico de remoção da lama lentamente, em coordenação com o bombeiro em solo, para que seja possível visualizar caso um corpo esteja soterrado — conta o comandante-geral.

Ele explica que este tipo de soterramento, com deslizamento de terra, tem peculiaridades que tornam o trabalho ainda mais complicado. Em terremotos ou desmoronamentos, por exemplo, os socorristas ainda conseguem buscar pelas chamadas bolsas de ar, onde é possível entrar e crescem as chances de encontrar vítimas com vida. Em "avalanches" de terra, como a que aconteceu neste domingo, a lama preenche todos os espaços vazios.

— As ações vão continuar até que a gente consiga fazer a varredura completa. Restam ainda por volta de 7 ou 8 casas. Diferente de outros tipos de soterramento, como em terremotos, por exemplo, onde é possível localizar bolsas de ar em escombros, nesse tipo de deslizamento esse cenário não é possível. Choveu muito ontem e choveu tanto em um longo período, como em grande volume. Isso altera o gradiente de resistência do solo e o local é uma elevação íngreme. Quando houve o deslizamento, veio como se fosse uma rajada de lama, parecido com Brumadinho, preenchendo todos os espaços com lama. Um barro muito pesado e intenso — acrescenta.

Muniz informa, ainda, que o trabalho de retirada das famílias já foi concluído. Ao todo, segundo ele, 74 famílias foram retiradas da área de risco e estão sendo cadastradas para que sejam integradas a programas sociais da prefeitura.