Tragédia em SP: em 2019, estudo alertou que 52 pontos estavam sujeitos a deslizamentos em São Sebastião

Até 2019, São Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo, tinha 52 pontos sujeitos a deslizamentos de terra em 21 núcleos de moradias ou bairros do município, quando foi finalizado um mapeamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), órgão da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico de São Paulo. O estudo foi feito com o objetivo de auxiliar a formatação de um plano de redução de riscos. Do total mapeado, 16 foram considerados de alto risco onde existiam 161 moradias. Os outros 36, com 2.043 habitações, deveriam "permanecer monitorados".

Na época, Barra do Sahy, onde foram registradas mais mortes em decorrência de deslizamentos de terra causados pelas fortes chuvas deste fim de semana, tinha 162 moradias em locais de risco, mas não estava na lista dos locais mais perigosos.

As áreas de risco estão em praticamente todo o município, incluindo praias com hotéis e residências de alto padrão, como Barra do Una, Juquehy, Maresias, Baleia e Camburi. Em geral, porém, os pés de morros são ocupados pela população de baixa renda, que trabalha no comércio e nas residências.

Fabrício Mirandola, diretor do IPT e responsável pelo levantamento, afirma que a Serra do Mar é suscetível a deslizamentos de terra mesmo quando as chuvas não são tão extremas quanto as registradas neste fim de semana. Os deslizamentos nas encostas, frisa, são naturais, mas no último fim de semana houve fluidificação do solo — ou seja, o que era sólido virou líquido.

— A fluidificação aumenta a capacidade de destruição, pois o raio atingido fica muito maior. Todos os detritos e árvores são arrastados inclusive pelos cursos d'água — diz ele.

Mirandola afirma ainda que a regularização fundiária em São Sebastião estava em curso, mas não soube precisar detalhes. Em 2019, o IPT indicou 16 locais onde as intervenções deveriam ser priorizadas e estimou em R$ 600 mil o custo das obras de engenharia. Na maioria dos casos, porém, o indicou a necessidade de se fazer estudos mais aprofundados para eliminar o problema. Entre as áreas com locais de alto risco estavam Juquehy, Camburi, Boiçucanga, Baraqueçaba, Itatinga, Topolândia, Morro do Abrigo e Jaguará.

— Pontos sujeitos a alagamentos e inundações também foram identificados em 16 núcleos de moradias ou bairros — a maioria identificados pelos nomes das praias, como Barra do Una, Juquehy, Baleia Verde, Paúba, Toque Toque Pequeno, Cambury, Boraceia e Enseada, além do centro da cidade.

São Sebastião concentrou 45 das 46 mortes ocorridas neste fim de semana devido a deslizamentos em morros e encostas. Vários bairros sofreram também com enchentes. No estudo do IPT haviam sido identificadas 4.032 moradias em locais sujeitos a inundações e alagamentos.

O trabalho foi feito nos meses de agosto e dezembro de 2018, com uso de drones, dentro do Programa de Apoio Tecnológico aos Municípios (Patem), que apoia as cidades na elaboração do Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR).

Prefeitura divulga apenas uma obra para conter deslizamentos

Procurada, a Prefeitura de São Sebastião não retornou ao pedido do GLOBO sobre o andamento das obras. No site da Prefeitura, a maior parte dos investimentos anunciados são de drenagem e asfaltamento de ruas, além de melhoria de equipamentos públicos. A única obra divulgada, relacionada a deslizamento de terras, foi a do Morro do Esquimó, em Juquehy, às margens da Rio-Santos (km 178), que foi licitada em 2022.

O site Prefeitura informa que, mesmo sem considerar ocorrência de chuva, o morro estava se movimentando 60 centímetros por ano e havia uma enorme fenda em seu topo, por onde a água infiltrava e atingia a base, chegando ao asfalto. O local já tinha histórico de deslizamentos. A última informação divulgada pela imprensa local é a de que a obra estava 60% pronta.

Em 2020, a Prefeitura de São Sebastião anunciou ter investido mais de R$ 300 milhões em 250 obras de recuperação e reformas de unidades de saúde e escolares, creches, pontes, passarelas, ruas, praças e quadras, além de drenagem, desassoreamento e mutirão de pavimentação. Em fevereiro de 2022, anunciou mais R$ 200 milhões em obras de drenagem, recapeamento de ruas e infraestrutura da cidade.