Twitter obriga Malafaia a apagar postagens antivacina e deixa pastor 12h sem publicar
FORTALEZA, CE (FOLHAPRESS) - ApĂłs exigĂȘncia do Twitter, o pastor Silas Malafaia excluiu pelo menos 11 postagens em que associava a vacinação contra Covid-19 para crianças a "infanticĂdio", ideia contrĂĄria a diversos estudos que mostram que a imunização infantil Ă© segura.
O religioso Ă© alvo de protestos na hashtag #DerrubaMalafaia, em que tuiteiros pedem o banimento da conta dele. O episĂłdio acontece em meio Ă crise entre a rede e usuĂĄrios sobre diretrizes para lidar com fake news na pandemia.
A rede social disse Ă reportagem, em nota, que solicitou ao lĂder religioso a remoção do conteĂșdo apĂłs constatar que os tuĂtes de Malafaia eram "gravemente nocivos" e violaram a polĂtica de informaçÔes enganosas sobre a Covid-19. O perfil do evangelista teve suas atividades restritas por 12 horas. Pelas regras, o religioso ainda pode recorrer Ă anĂĄlise da plataforma.
O lĂder da Assembleia de Deus VitĂłria em Cristo disse Ă reportagem que estĂĄ "dando gargalhada" diante dos pedidos de remoção do seu perfil. "Ă um movimento de ÂesquerdopatasÂ, gente que me odeia. Tenho que rir, deram uma divulgação desgraçada para o vĂdeo", diz Malafaia, referindo-se ao material em que associa a imunização Ă morte de criançasÂo que contraria falas de especialistas do Brasil e do mundo.
Na filmagem, que foi retirada do Twitter, mas continua disponĂvel em outras redes, o pastor mostra captura de tela de um estudo que cita dados do MinistĂ©rio da SaĂșde de setembro de 2021 para argumentar que Ă© baixo o Ăndice de mortalidade infantil por Covid-19.
"NĂŁo existe nenhum risco grave de crianças morrendo. A quem interessa isso (vacinação infantil)? Isso Ă© infanticĂdio. Isso Ă© um absurdo. Se nĂłs tivĂ©ssemos com alto nĂșmero de crianças morrendo, entĂŁo seria a escolha de Sofia. Mas nĂŁo tem", afirma no vĂdeo.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Malafaia criticou a polĂtica do Twitter para lidar com sinalização de conteĂșdo falso. "ÂNĂȘgo faz pressĂŁo e o Twitter tira primeiro a postagem do ar para depois te perguntar se vocĂȘ quer se defender. JĂĄ viu isso? Te acusam, te botam na cadeia e dizem: Âagora vocĂȘ vai se defenderÂ. Ă o que o Twitter faz. Tem que ser ao contrĂĄrio. Isso Ă© uma vergonha."
Pelas regras da plataforma, as penalidades sĂŁo aplicadas a tuĂtes que possam expor as pessoas a mais risco de contrair ou transmitir a doença, como os que negam a eficĂĄcia de medidas de proteção, sugerem tratamentos nĂŁo aprovados ou distorcem estudos sobre vacinas.
As puniçÔes começam com o uso de uma etiqueta para sinalizar que o tuĂte Ă© enganoso e podem chegar Ă suspensĂŁo permanente de um usuĂĄrio, quando ele comete a partir de cinco transgressĂ”es. Como pelo menos 11 postagens de Malafaia violaram as regras, os usuĂĄrios tĂȘm pedido Ă rede o banimento permanente do perfil do pastor evangĂ©lico.
Na semana passada, a hashtag #TwitterApoiaFakeNews cobrou do site uma revisĂŁo nos fluxos para sinalizar postagens inverĂdicas. O estopim para as manifestaçÔes foi a concessĂŁo do selo azul Ă blogueira bolsonarista BĂĄrbara Destefani, da pĂĄgina "Te Atualizei". A ativista Ă© apontada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) como disseminadora de fake news e viu seu canal no YouTube ser desmonetizado por decisĂŁo judicial em 2020.
Depois das manifestaçÔes de usuĂĄrios contra a verificação de BĂĄrbara, o MPF (MinistĂ©rio PĂșblico Federal) pediu Ă plataforma, na quinta-feira (6), explicaçÔes acerca das regras para lidar com fake news e verificar perfis. O Twitter recebeu dez dias para responder ao ofĂcio do ĂłrgĂŁo e disse que sĂł comentarĂĄ o assunto nos autos do processo.