Vôlei do Fluminense supera orçamento modesto e se destaca na Superliga rumo ao mata-mata
Após terceiro lugar inédito na Copa do Brasil, o Fluminense volta a jogar pela Superliga neste sábado, às 18h30, contra o São Caetano, na casa do rival. O time vive fase de destaque no cenário nacional mesmo com orçamento "cinco vezes menor" do que os mais abastados do campeonato. O time das Laranjeiras manda seus jogos no ginásio da A Hebraica e treina no Fluminense, em quadra poliesportiva, com cestas de basquete, sem o piso de borracha e dividindo o espaço com seleções de base de outras modalidades. Na última semana, mal o time terminava o treino e garotos do basquete esperavam do lado de fora para usar o espaço.
Mesmo assim, a central Lara, de 1m85, lidera as estatísticas de melhor bloqueadora da competição. E o técnico Guilherme Schmitz, há cerca de 20 anos no clube carioca, essencialmente lapidando a base, assumirá o comando da seleção brasileira sub-19. Ele foi assistente das seleções brasileira de base desde 2013.
— Tenho uma equipe madura e consciente das suas limitações. Em função do equilíbrio desta Superliga, tudo é possível. Tanto vencer equipes de maior investimento quanto perder para equipes com investimento mais modesto — afirma Guilherme, que estima, segundo o que “se fala no mercado”, que o Fluminense tenha orçamento cinco vezes menor que os líderes. — Mas as meninas se encaixaram, o time tem química.
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Esta é a segunda temporada de Guilherme como técnico do time principal (na temporada anterior terminou em sexto), mas fazia parte da comissão técnica do time adulto desde o início do projeto, em 2016. Agora, o Fluminense tem feito sua melhor campanha na Superliga desde então. Chegou a série de cinco vitórias seguidas, incluindo em confrontos contra o Flamengo e Bauru (seis, se incluir a Copa do Brasil). E mesmo com derrota no último jogo para o Minas por 3 a 1, já está classificado entre as oito melhores do país para o mata-mata, a partir de abril.
Destaques
O time disputa a quarta colocação com o Flamengo, equipe com mais investimento e com jogadores tarimbadas. Atualmente, está em quinto com 33 pontos, 12 vitórias e seis derrotas. O Flamengo, uma posição acima, tem 36 pontos (11 vitórias e sete derrotas). O líder é o Praia, com 49 pontos (17 vitórias e uma derrota).
O projeto do Fluminense tem como um dos pilares formar e investir em jovens talentos. Hoje, na equipe principal, nomes como Mayara, Lelê e Stephany foram formadas nas categorias de base do clube.
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Lelê, de 19 anos, chegou ao Fluminense aos 11 e é considerada a principal revelação das categorias de base. No ano passado, foi a primeira líbero capitã da seleção brasileira, durante o Sul-Americano, no Peru, quando o Brasil foi campeão. Guilherme, como auxiliar, e a levantadora Maria Clara também fizeram parte dessa equipe.
— A Lelê é uma jogadora excepcional e ainda está em formação. Sobrava na base e agora, no adulto, está se encontrando nesse mundão que se abriu para ela. — elogia o treinador.
A líbero jogava futebol quando, inspirada pela irmã mais velha Julia, de 25 anos, resolveu jogar bola com as mãos. Ela sempre teve incentivo em sua casa: o pai Hélio foi jogador de futebol do São Cristovão, na série B (hoje é bombeiro salva vidas no Leme). E a mãe Isabel jogou vôlei (aposentada, bate bola nas areias do Flamengo).
Ao GLOBO, ela disse que vislumbra a seleção adulta mas foca no que tem em mãos, o clube e a seleção sub-21, que disputará o Mundial do México, em agosto.
— Aqui no clube eu sou uma das mais novas. Então estou na fase de escutar, aprender e observar — diz Lelê, empolgada com a Superliga: — Estamos confiantes, nosso grupo está fechado.
A central e capitã Lara conta que a meta era classificar para os playoffs e que agora, já garantidos entre os oito melhores para o mata-mata, eles querem chegar em quarto na classificação final.
A jogadora de 34 anos é a mais experiente do time e a que tem maior identificação com a torcida. Melhor bloqueadora da competição, ela conta que preferiu acertar com o clube justamente porque tem ligação com a instituição e com a cidade. Entre indas e vindas, esta é a quinta temporada nas Laranjeiras.
— Meu namorado era jogador do Fluminense (Diego Cavalieri) então acho que a torcida juntou esse amor por ele e começou a gostar de mim também. Vesti a camisa, foi genuíno, foi acontecendo — diz a jogadora que acredita que o fato de ser capitã a fez evoluir dentro de quadra: — Gerou algo em mim, de ter maior responsabilidade, querer ajudar e cresci. Claro que vejo estatística e quero ser uma das melhores na minha posição, mas é uma consequência de um time unido e que vai brigar até o fim.