Veja a trajetória política de Regina Duarte, que deixa cargo de Secretária de Cultura do governo Bolsonaro
Famosa por papéis como a Viúva Porcina, da novela Roque Santeiro, e como a Rainha da Sucata, Regina Duarte encerrou no fim de fevereiro seu contrato de mais de 50 anos com a Rede Globo. O motivo foi a posse como secretária especial de Cultura, no governo do presidente Jair Bolsonaro, depois de um mês e meio de “noivado”, período em que aproveitou para conhecer a estrutura da pasta.
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A trajetória artística de Regina se misturou à presença eventual em discussões políticas do país. Ironicamente, a atriz era vista como militante da esquerda durante a ditadura militar. Em entrevistas, ela disse ter lutado no movimento Diretas Já, que pedia a volta das eleições diretas para cargos do Executivo e do Legislativo em 1984. Mas afirmou: “Eu fui e continuo conservadora”.
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“EU TENHO MEDO”
Em 1985, participou da campanha de Fernando Henrique Cardoso à Prefeitura de São Paulo e o apoiou em 1998, quando ele tentava a reeleição como presidente.
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A atriz ficou marcada por uma declaração no segundo turno da campanha presidencial de 2002. No horário eleitoral gratuito, durante a propaganda do então candidato do PSDB, José Serra (SP), ela disse ter medo do PT.
Em 2016, Regina Duarte subiu em cima do trio elétrico, em um protesto que pedia o impeachment da presidente Dilma Roussef.
“UM CARA DOCE”
Já em 2018, na campanha de Jair Bolsonaro, Regina participou de um ato a favor do então candidato na Avenida Paulista. Em entrevista, na época, disse que Bolsonaro era “um cara doce, um homem dos anos 1950, como meu pai, e que faz brincadeiras homofóbicas, mas é da boca pra fora”.
Regina Duarte foi convidada pelo presidente para assumir o cargo de secretária especial da Cultura no lugar do dramaturgo Roberto Alvim, em janeiro deste ano. O diretor de teatro deixou o cargo após divulgar um vídeo com um discurso em que repetia frases de Joseph Goebbels, ministro da propaganda na Alemanha nazista.
Ela tomou posse no dia 4 de março, com a função de pacificar os ânimos entre artistas e governo, além de gerenciar todas as políticas públicas federais ligadas à cultura nacional.
“CADÊ VOCÊ, REGINA?”
No entanto, Regina foi isolada dentro do governo e a omissão foi a marca de sua gestão. Não teve força para destravar sua agenda cultural e sequer conseguiu escolher a própria equipe.
A atriz também virou alvo da ala ideológica, após exonerar funcionários ligados ao escritor Olavo de Carvalho.
Com a crise causada pelo coronavírus, a insatisfação do setor cultural aumentou com a secretaria. A classe artística foi uma das mais afetadas com a proibição de aglomerações e o consequente fechamento de salas de teatro e cancelamento de shows, entre outras medidas. A omissão da Secretaria Especial de Cultura foi duramente criticada nas redes sociais, o que gerou o movimento “Cadê você, Regina?”.
“CHILIQUE”
Regina Duarte deu um “chilique”, como ela mesma considerou, em entrevista ao vivo na CNN, ao ouvir críticas à sua gestão. Ela ficou irritada quando a emissora mostrou um vídeo enviado pela atriz Maitê Proença pedindo que a secretária desse soluções para a classe artística em meio à pandemia.
Durante a entrevista, Regina ainda deu declarações minimizando a censura e a tortura durante a ditadura e relativizou o impacto do coronavírus. Questionada por ter se silenciado diante da morte de diversos artistas desde que assumiu a secretaria, Regina também minimizou e disse que não queria fazer um “obituário” na pasta.
“FRITURA”
Após um processo de “fritura”, Regina Duarte deixou o cargo na manhã desta quarta-feira (20), alegando que queria ficar mais próxima da família, em São Paulo.
Nos bastidores, dizem que ela e o presidente estavam insatisfeitos. Bolsonaro já havia reclamado publicamente que Regina não dava expediente em Brasília, o que abriria espaço a conflitos ideológicos dentro da secretaria.
“Tem muita gente de esquerda [na secretaria de Cultura] pregando ideologia de gênero, essas coisas todas que a sociedade, a massa da população não admite. E ela tem dificuldade nesse sentido”, afirmou o presidente no dia 28 de abril.
Regina, por sua vez, esperava ter carta branca - algo que foi prometido pelo presidente - para poder nomear os subordinados.
Agora, segundo Bolsonaro, a atriz assume a Cinemateca Brasileira, em São Paulo.