Vereador pede abertura de CPI para investigar empresas de ônibus em SP
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O vereador Delegado Palumbo (MDB) protocolou nesta sexta-feira (10) requerimento para criar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), na Câmara Municipal de São Paulo, com o objetivo de investigar empresas que atuam no transporte coletivo da capital.
Para isso, são necessárias 19 assinaturas de um total de 55 vereadores. Entre eles, o vereador Senival Moura, líder do PT na Casa, e que, de acordo com a Polícia Civil, é um dos suspeitos pela morte de Adauto Soares Jorge, ex-presidente de uma cooperativa de transportes.
Palumbo acredita que atingirá o número mínimo de assinaturas até o começo da próxima semana.
Em seu requerimento, o vereador lista sete itens a serem averiguados: (1) identificar eventuais irregularidades; (2) apurar as medições e pagamento; (3) a qualidade dos serviços; (4) pessoas físicas e/ou jurídicas envolvidas com empresas que agem ilicitamente; (5) o quadro societário das empresas e se há conflito de interesses com a administração pública; (6) o programa de compliance; (7) mecanismos destas empresas para combater a corrupção.
Como justificativa para a abertura da CPI, Palumbo afirma que mandados de busca e apreensão foram "cumpridos, sendo que um deles ocorreu na casa e escritório de um vereador desta Casa Legislativa".
Para ele, a suspeita sobre o envolvimento de Moura fere a imagem da classe política e da Câmara.
"Claro que tudo precisa ser provado, mas é muito ruim", diz Palumbo. "Os delegados que conduzem as investigações são pessoas sérias e comprometidas."
Também nesta sexta-feira (10), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), pediu que representantes do governo se reunissem com o delegado Fábio Pinheiro, que conduz a investigação. "Para saber se tem algo que envolve a prefeitura", afirmou Nunes à reportagem.
Participaram da conversa os secretários municipais de Mobilidade e Trânsito (Ricardo Teixeira) e Governo (Rubens Rizek), o controlador-geral Daniel Falcão e a procuradora-geral Marina Magro Beringhs Martinez. Até o momento, a Folha não soube qual o desfecho deste encontro.
Na quinta (9), a Polícia Civil deflagrou uma operação que apura a participação do crime organizado no transporte urbano da capital. A direção da empresa Transunião, que atua na zona leste, e o vereador Moura estão entre os investigados.
Segundo a Polícia, integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) detêm de 30% a 40% da frota da Transunião.
A empresa recebe atualmente da Prefeitura de São Paulo cerca de R$ 100 milhões por ano --o total do contrato de concessão, válido por 20 anos, é de cerca de R$ 2 bilhões.
Moura é um dos fundadores da Transunião e, de acordo com a Polícia, é dono de pelo menos 13 ônibus que prestam o serviço.
A investigação aponta ainda que Adauto Soares Jorge, então presidente da Transunião ao ser assassinado em março de 2020, era uma espécie de testa de ferro do vereador.
O petista teria colocado Adauto no comando da empresa, e ambos não repassaram parte dos lucros à facção criminosa.
Quando o PCC descobriu isso, ordenou a morte de ambos, disse o diretor do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), Fábio Pinheiro, unidade responsável pela investigação.
Em outra operação policial, o delegado do Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico) Fernando Santiago, responsável pela investigação, identificou que 18 criminosos do PCC têm participação na empresa UPBus Qualidade em Transporte.
Esta opera 13 linhas na zona oeste e tem contrato de concessão com a Prefeitura de São Paulo por 15 anos.
Para o vereador Palumbo, a ligação entre empresas de ônibus e o crime organizado não é mais surpresa. Como exemplo, ele cita episódios nos quais facções atearam fogo em ônibus, mas tem poupado micro-ônibus e vans.
"Com a atuação do Deic isso veio à tona. São empresas que recebem subsídios bilionários e prestam péssimos serviços", diz o vereador.
Procurada pela Folha, a assessoria de Moura não se manifestou nesta sexta sobre a intenção de uma CPI.
Em nota nesta quinta, o petista disse que "foi surpreendido por uma operação policial em minha casa, mas quero aqui reafirmar que eu não tenho nenhum envolvimento com as ações que estão sendo noticiadas".