Vereadora Luana Alves vai denunciar Camila Cristófaro na Delegacia de Crimes Raciais
Resumo da notícia
Vereadora Luana Alves vai denunciar Camilo Cristófaro na Delegacia de Crimes Raciais
Durante sessão da Câmara de Vereadores, Cristófaro foi acusado de fazer fala racista
PSB desfiliou Camilo Cristófaro da legenda
A vereadora Luana Alves (Psol-SP) vai protocolar uma denúncia contra Camilo Cristófaro (sem partido) por racismo na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância. A decisão foi tomada após o vereador ter dito uma frase considerada racista durante sessão da Câmara Municipal de São Paulo na última terça-feira (3).
“Estou chegando na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância com as documentações que comprovam a prática de racismo do vereador Camilo Cristófaro na Câmara, ontem”, afirmou Luana. A vereadora foi a primeira a se pronunciar após o áudio de Cristófaro, que participava da sessão remotamente, vazar no plenário.
"Qualquer pessoa que sofre crime de racismo pode vir no Decradi e abrir um pedido para que se investigue esse crime. Todo mundo viu que o vereador Cristófaro, ontem, no meio da CPI dos Aplicativos, falou que alguém não lavar a calçada 'é coisa de preto'. Só que, para nós, 'coisa de preto' é lutar contra o racismo e lutar contra injustiça", disse a vereadora.
Logo após o caso, Luana Alves já havia adiantado que entraria com uma representação na corregedoria da Câmara para que Cristófaro seja investigado pela casa. "Na hora, a gente fica muito surpresa, muito doída, mas, infelizmente, não é a primeira vez que acontece na Câmara Municipal de São Paulo. E nós, o nosso mandato, estará entrando na Corregedoria buscando a punição deste vereador", declarou a vereadora ao Yahoo! Notícias. "A gente não admite fala, comportamento racista, em especial na casa do povo, em especial a população negra e trabalhadora de São Paulo."
Duas versões
O vereador de São Paulo Camilo Cristófaro deu duas versões diferentes para explicar a fala. O caso aconteceu durante sessão da Câmara Municipal na última terça-feira (3), quando Cristófaro disse: “Não lavar a calçada, é coisa de preto, né?”
Após a repercussão, ele enviou um vídeo para um grupo de vereadores, por volta das 11h20. Ele afirmou que estava se referindo a “carros pretos”. Assista:
RACISMO: Antes de viralizar o trecho da sessão e ficar evidente a fala racista do vereador Camilo Cristófaro na Câmara de São Paulo, o vereador mandou essa explicação no grupo de vereadores no WhatsApp.
Tentou omitir sobre o que tinha falado. Depois mudou a versão.
Assista👇 pic.twitter.com/nOcwmxSUwU— Renan Brites Peixoto (@RenanPeixoto_) May 3, 2022
“São 11h20 da manhã e estou fazendo uma gravação aqui. Estou dizendo exatamente que esses carros pretos dão trabalho. Que os carros pretos são f... Estou dizendo aqui que carro preto não é fácil para cuidar da pintura. Então, se a vereadora Luana olhou pro outro lado, 70% das pessoas que me acompanham, vereadora, são negros. Então, a senhora não vem com conversa. Olha só, estão lavando aqui, oh. Estou dizendo que carro preto dá trabalho, que carro preto é f... dão mais trabalho para polir”, disse no vídeo.
Depois, às 14h, aconteceu a reunião do Colégio de Líderes da Câmara e Camilo Cristófaro participou. O vereador mudou a versão sobre os carros e afirmou que estava conversando com um amigo, considerado por ele como um irmão, que é negro.
“Eu ia gravar um programa que não foi gravado lá no meu galpão de carros. Eu estava com o Chuchu, que é o chefe de gabinete da Sub do Ipiranga, e é negro. Eu comentei com ele, que estava lá. Inclusive no domingo nós fizemos uma limpeza e quando eu cheguei eu falei: ‘isso aí é coisa de preto, né?’. Falei pro Chuchu, como irmão, porque ele é meu irmão”, declarou aos colegas.
Em seguida, Camilo Cristófaro pediu desculpas e disse que estava brincando com o amigo. “Se eu errei é porque eu tenho essa intimidade com ele, porque ele me chama de carequinha, ele me chama de ‘veínho’. Nós temos essa intimidade. Ele é um irmão meu”, afirmou.
Expulso do PSB
O PSB de São Paulo desfiliou o vereador Camilo Cristófaro da legenda.
Para adotar um rito sumário, o presidente do partido em SP, Jonas Donizette, aceitou um pedido que o parlamentar fez de afastamento dos diretórios municipal e estadual da agremiação, no dia 28 de abril.
Cristófaro não falava claramente em desfiliação, mas citava o artigo 17, paragrafo 6º, da Constituição, que permite o desligamento partidário com a anuência da direção da agremiação.
"Ele já vinha me ligando, afirmando que queria a desfiliação. Estávamos tentando segurá-lo. Mas, diante do fato gravíssimo de manifestação de racismo, que vai contra os princípios do PSB, o desligamento foi aceito", afirma Donizette.
Consequências na Câmara
A declaração de Cristófaro foi feita durante a sessão da CPI dos Aplicativos, na Câmara Municipal. Assista:
Logo após a fala vazada de Camilo Cristófaro, o presidente da CPI, Adilson Amadeu (União Brasil) pediu que o som fosse desligado, em referência aos vereadores que participavam de forma remota. A vereadora Luana Alves de opõe ao pedido e, em seguida, a sessão é suspensa.
Em nota, o presidente da Câmara, Milton Leite, lamentou o episódio e prometeu que o caso será apurado pela corregedoria. "É com uma indignação imensa que lamento mais uma denúncia de episódio racista dentro da Câmara de Vereadores de São Paulo, local democrático, livre e que acolhe a todos", afirmou. "Como negro e presidente da Câmara tenho lutado com todas as forças contra o racismo, crime que insiste em ser cometido dentro de uma Casa de Leis e fora dela também. O caso será apurado pela Corregedoria da Câmara Municipal de São Paulo."