Temer ri da própria carta. É esse o 'mestre' da costura política?
Numa mesa de bacanas, cercados por taças de cristal, os convivas riem do jeitão tosco de falar do presidente Jair Bolsonaro, presente ali apenas pela imitação, feita com a pena da galhofa e a tinta da desmoralização por um dos presentes.
Na fala fidedigna, o comediante ridiculariza a carta divulgada pelo ex-capitão com acenos à pacificação nacional depois de prometer desobedecer as ordens judiciais de um “canalha” do Supremo Tribunal Federal e mobilizar até caminhoneiros para emparedar a República. Mais gargalhadas.
Sommeliers da piada alheia não veriam problema na cena não fosse um detalhe: entre os presentes que caíram na risada estava o próprio autor da carta, Michel Temer. Na semana passada, ele foi chamado às pressas para apagar o incêndio provocado por Bolsonaro. Um incêndio com potencial de parar o país.
Fogo contido, o arquiteto da pacificação nacional, com Supremo, com tudo versão 2021, foi logo coroado como o agente moderador do qual o país precisava para voltar aos trilhos.
Dessa vez o registro da cena não precisou ser feito por sistemas de gravação escondidas na roupa de dono de frigorífico enrolado com a Justiça e recebido no palácio no meio da noite. Foi feita às claras, divulgada e viralizada como num rastilho.
Sim: Temer, sentado com alguns dos principais inimigos de Bolsonaro, acabava de endossar a performance desmoralizante do presidente que jurou querer ajudar. Ele mal cotinha o riso, como se tivesse feito alguém (mais um?) de bobo.
A simples divulgação de seu sorriso satisfeito com a paródia joga às favas a outro mito. A de mestre da articulação política.
Vai faltar inteligência assim lá na casa do empresário que cedeu sua mansão para a campanha de Bolsonaro em 2018 e virou suplente do senador Flávio Bolsonaro. O dono do QG, também presente ao convescote, é o pai do imitador à mesa.
Naquela cena, a pacificação articulada por Michel Temer se mostrou tão frágil quanto as taças servidas aos convidados.